Tradição Visível & Invisível

Há alguns dias eu entendi o que era tradição. Tradição espiritual. E fatalmente, me quedei pensativo: de fato, é algo que inspira segurança. Talvez mais do que isso, reconhecimento. 
Estar numa tradição visível, de elos identificáveis e acessíveis, é algo que situa o indivíduo num contexto que transcende sua compreensão de tempo e espaço. Aquela linhagem está ali muito antes dele; e permanecerá após seu trabalho, podendo usufruir ou não das sementes que ele vai plantar. 
Todo esse trabalho contínuo é fascinante, e talvez essa seja a aplicação correta do conceito de ancestralidade: mais do que seus familiares consanguíneos, aquela linhagem te ampara na trilha do caminho que todos eles percorreram. Um após o outro, e sempre conectados à Fonte. 
Essa é a tradição visível. E é claro que ela também é transitória. Em algum momento, por circunstâncias que não vêm ao caso, a tradição se fecha - ou melhor: se torna invisível. 

Uma tradição invisível é aquela que os elos da corrente já não são identificáveis e nem tangíveis. Tal como nas tradições mais sérias, o indivíduo só pode ser admitido mediante seu mérito, no tempo correto, e conforme sua afinidade com o Caminho proposto, porém há uma diferença: nas linhagens invisíveis não existe requisição para a iniciação - são sempre os Mestres que vêm ao discípulo. 
Os contatos são majoritariamente unilaterais e esse formato de tradição exige bastante disciplina do adepto pois ele é o corpo material daquela instituição. É o seu trabalho a expressão física daquela linhagem e tudo se apoia sobre os seus ombros. Raramente ele terá irmãos que compartilhem daquela responsabilidade e toda essa intangibilidade só pode ser manejada pela firmeza da Vontade e a qualidade primordial da Fé. É essa a virtude que sustenta a tradição e, sem ela, o adepto pouco pode fazer. 
A grande questão das tradições invisíveis é justamente a ausência de contexto que os elos visíveis oferecem. O adepto conta apenas com aquilo que lhe é transmitido formalmente e precisa compor todo um quebra-cabeça por si só, com as peças que vão lhe sendo dadas no percorrer do Caminho. Os Mestres sabem o quão desafiador pode ser para o discípulo caminhar sem ter claras as noções tempo/espaciais que são tão caras à nossa dimensão. Porém, esse é o grande teste: aos que lhe parecerem estarem cegos, que abandonem a guidância e quitem do Caminho; os verdadeiros discípulos terão seus olhos cheios de Luz e estarão amparados pelo seu coração. É só isso que importa. 

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